Quando casei em 1963, com 22 anos, sempre pensei em ter filhos. E Deus foi muito generoso comigo, pois me deu quatro lindas crianças.
O tempo foi passando, a vida seguindo e os filhos crescendo. Uns estudiosos, outros empurrados pelos pais, mas procurando seus caminhos.
De repente, após vinte e cinco anos de união, começamos a administrar a síndrome do “ninho vazio”, isto é, os filhos foram embora e o casal ficou só. Essa é uma fase do casamento meio complicada. Dentre alguns amigos, uns se separaram ou as mães acompanhavam os filhos e aí a separação aparecia, pois o homem, principalmente, não suportava a solidão e arranjava outra companheira. Fui testemunha de vários casos desse tipo.
Conosco aconteceu um fortalecimento da união. Os dois começaram a trabalhar mais, a mulher se envolveu com o sindicalismo, o militar virou engenheiro civil e tudo melhorou na casa da Rua Santa Fernanda.
Novo fenômeno a ser administrado: famílias dos agregados se uniram à nossa e começamos a ver os filhos ficarem diferentes. Foi preciso coragem para não os perder, tentando viver bem como os novos parentes. Pessoas sábias nos ensinaram que a partir daquele momento, a família seria uma só. E lá vamos nós, convivendo com as novas criaturas e ultrapassando obstáculos.
Chegam os netos. Filhos de filhas, filhos de filhos. Senti dificuldades com alguns, pois a intimidade com as noras era menor. Entretanto, o sangue fala mais alto e o amor por eles foi crescendo do mesmo modo.
Já estamos na fase dos bisnetos. Os filhos moram em lugares diferentes e metade dos netos em outros países. Nada mudou; uns são mais próximos, outros mais distantes. Eu e meu marido passamos dos oitenta e só vemos netos e bisnetos quando vêm ao Paraíso da Vovó Alari. Recebemos notícias e fotos dos bisnetos que não conhecemos pelo smartphone, mas os amamos da mesma maneira.
Não sinto mais coragem de sair do Brasil, pois acho os aeroportos muito longos, cansativos e os fiscais bem chatos. Em Portugal, ouvi uma mulher, fiscal aduaneira, gritando: “Saia daí, saia daí!” Era comigo. Apesar de ser idosa, não tinha dificuldade de locomoção. Segundo meu amigo Carlito Lima, da próxima vez iremos de cadeiras de rodas.
Acordo cedo e logo as duas filhas ligam: “Mãe, quer novidade? ”Contam que um neto passou no vestibular de Engenharia da Universidade Federal de Pernambuco; que a filha vai se formar em Harvard; que em Nova York nascerá outra bisneta; que uma neta foi visitar um primo, outro neto, em Miami”. E haja novidades!
Dentre os onze netos, fui escolhida para madrinha de um deles. É um bom menino, está cursando medicina e em breve serei madrinha e avó de um querido doutor.
A tendência maior dentre eles é por ciências exatas. Engenheiros são vários. Uma quase psicóloga, uma quase arquiteta, outros vivendo e trabalhando nos Estados Unidos. Nós, velhinhos aqui, rezando e torcendo por todos, vivemos nossas vidas cheias de médicos e caixinhas de remédios.
Hoje, ouvi de uma filha: “Mãe, você e papai levam uma vida tranquila. Estamos longe, mas sabemos que vocês estão lúcidos e com a saúde controlada. Agradeçam a Deus!”
Contamos com pessoas que trabalham em nossa casa e nos socorrem quando precisamos. Queremos crer que são nossos amigos.
E a vida vai seguindo! Vez por outra, o telefone toca: Morreu fulano. Um velho amigo. Estamos na fila, mas só Deus sabe o dia em que partiremos.
Enquanto isso, continuamos vivendo bem, sem álcool, sem fumo, nadando na piscina, respirando o ar da praia, dormindo bem.
Esperando notícias boas de filhos, filhas, netos, netas, bisnetos e bisnetas.
Todos voaram para longe!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa