Lembro-me de ter chegado em nossa casa, um amigo de meu pai, chamado Helson Batinga, lá pelos idos de 1968. Era um penedense, engenheiro, residente em Salvador. Vinha implantar a SALGEMA.
Os políticos ficaram felizes. Teríamos uma empresa que iria tirar sal do subsolo, trazendo muito dinheiro para os cofres de nosso pequenino Estado. Seria a redenção de Alagoas. Nós, povo nordestino, pouco entendíamos o que estava acontecendo.
Tempos depois, passávamos pelo Pontal da Barra e pelo Trapiche da Barra e sentíamos um cheiro forte de cloro. Eu ficava intrigada e queria saber donde vinha tal odor. É da SALGEMA diziam os mais entendidos.
Realmente, a empresa trouxe mais empregos, mais impostos e foi crescendo bastante, instalada no Pontal da Barra, em frente ao mar. Depois de mudar de nome algumas vezes, virou BRASKEN.
Os anos foram passando e em 2018 as casas de parte do Farol, Mutange, Bom Parto, Bebedouro e Pinheiro começaram a rachar e a ceder. Estranho acontecimento e os escândalos começaram a vir à tona. A culpa é da BRASKEN, diziam os mais sabidos. Explorou o subsolo e deixou um grande buraco. Por causa disso, o solo cedeu e as casas estão caindo.
O povo de Maceió residente nas áreas afetadas entrou em pânico, a Justiça se envolveu e a BRASKEN teve que tomar uma atitude. Fez um mapa das casas avariadas e começou a comprá-las. Nem sempre os proprietários ficavam satisfeitos e as brigas surgiram. Quem tinha ponto comercial foi mais prejudicado, pois o valor avaliado pela BRASKEN não cobria seus prejuízos.
A área virou uma bomba que explodiria e derrubaria seis bairros, diziam. Pessoas que moravam há vinte, trinta anos numa determinada rua, viam suas casas caindo, recebiam um determinado valor para comprar outro imóvel.
Eram formadas Comissões que deveriam resolver milhares de problemas e a destruição continuava. Os políticos, em sua maioria, se aproveitavam do sofrimento do povo, tudo prometiam e nada resolviam.
No fim do ano passado fui visitar uma amiga no Pinheiro e chorei de tristeza, ao ver os prédios destruídos, as ruas vazias, tudo parecendo um cenário de guerra. Dava dó ver os bairros desabitados.
Renan Filho foi Governador por oito anos e nada fez para resolver parte do problema criado. O Prefeito Rui Palmeira, idem. O Legislativo também não se abalou para ajudar as famílias dos seis bairros destruídos. A Justiça corria daqui para lá, criava Comissões e a BRASKEN não cumpria os acordos.
De repente, estoura novo escândalo: Vai explodir uma mina na beira da Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange. As famílias são obrigadas a abandonarem suas casas em menos de vinte e quatro horas. O trânsito é interditado na área. E o pior ainda: Há mais de 35 minas.
Nosso pequenino Estado virou notícia nacional e o povo todo ficou esperando a mina explodir. Mais uma vez a população não entendeu porque a BRASKEN não avisou com antecedência. E os pescadores e as marisqueiras que vivem da pesca na lagoa, ficaram sem renda e sem ter onde morar.
Imaginem vocês uma cidade como Maceió, com parte alta, parte baixa, mar, lagoa, rio, tanta beleza e de repente, perder seis bairros e ver seus habitantes abandonarem suas casas, seus empregos, seu comércio.
Sou uma alagoana, de Maceió,, nascida e criada perto do mar e nunca vi desastre ambiental tão grande. Não imagino por que os homens estudiosos cometeram um erro tão grave. Por que não estudaram as consequências que viriam por terem retirado o sal do subsolo e deixado tão grande buraco?
Será que eles dormem tranquilos depois de ter acabado boa parte de nossa linda Maceió? Será que valeu a pena o dinheiro arrecadado? Quantas famílias estão vivendo dramas enormes pela falta de previsão dos técnicos que trabalharam na SALGEMA e na BRASKEN?
A desgraça está instalada e a redenção de Alagoas virou um desastre ambiental.
Deus que ajude nossa Maceió!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa