Estou ficando velha, digo eu. Minha filha mais velha ri e pergunta: “Com oitenta e um anos ainda está ficando velha, mãe”? Na realidade, quero acreditar que ainda não sou tão idosa.
No Brasil, as pessoas com mais de sessenta anos não são devidamente respeitadas. Observo alguns lances do tipo: ela não enxerga bem; ele não ouve bem; aqui, acolá, ele dá um “chilique” e precisa ser hospitalizado; devemos cuidar dos dois. E sinto que os filhos têm razão.
De repente, liga um filho de fora, preocupado com os pais velhinhos. Tudo bem? E a pressão do papai? Sua vista melhorou? Respondo com tranquilidade e penso: Graças a Deus, a cabeça funciona bem e tocamos a vida com calma.
Estávamos os dois esperando um banco abrir e ficamos no fim da fila. Veio uma jovem senhora e pediu que fôssemos para frente de todos. Ficamos emocionados, mas a primeira da fila, uma jovem de uns quarenta anos, não nos deixou passar. Contrastes da vida!
No mesmo dia, chegamos no “Velho Sindicato” e um servidor que está lá desde o tempo em que eu fui Presidente, chegou perto de mim e de outra amiga oitentona e disse: “Inspiro-me em vocês para viver uma boa vida”. Obrigada, João Batista!
Recentemente, participei da campanha eleitoral do “Velho Sindicato”. Trabalhei por mais de quarenta dias para não entregar nossa entidade a pessoas desavisadas. Até eu me assustei com a rotina pesada durante tanto tempo. Fui xingada, agredida verbalmente, a pressão e a glicose subiram, mas cheguei viva na eleição. E saímos vitoriosos! Aguentei o tranco e no dia da posse de nossos candidatos, o meu prêmio foi ouvir a minha neta cantar em nossa casa de trabalho pelos servidores do Legislativo.
Uma irmã dizia que eu era defensora dos idosos em primeiro lugar, sem segundo. E agora que vivo o problema, vejo o respeito de uns e o desrespeito de outros por pessoas mais velhas, fico sempre defendendo as idosas.
Outro fato irritante é a exploração de avôs e avós por filhos e netos desocupados. Eles, os algozes, viram procuradores dos parentes, se apossam dos cartões do banco para administrar os proventos e tirar empréstimos consignados. Além de tudo, ainda tratam mal seu provedores.
Achei engraçado um moço de mais de quarenta anos que perdeu a mãe e queria receber a pensão da coitada. Fatos dessa natureza me deixam triste.
Converso sempre com colegas aposentados e sinto insegurança no que dizem. Quando perguntamos algo, vem a resposta: “Vou falar com meu filho ou meu neto”. E nada resolvem sem eles.
Certa feita, um colega nosso usou o facebook para zombar dos aposentados do Legislativo. Vários companheiros me procuraram para contar o fato. Aborrecida, usei o mesmo “face” para defender os companheiros inativos. “Foi uma brincadeira”, disse o gaiato. Mas, ofendeu bastante os velhinhos.
Quando me chamam de velha, respondo que quem não morre cedo, vira longevo. Por ironia da vida, perdi um filho com 54 anos, estando eu com 81.
Em alguns países, os velhos são respeitados e viram conselheiros. No Brasil, não ocorre tal fato. Vemos poucas pessoas da “melhor idade” ainda trabalhando. Respeito muito o Léo Batista, da TV Globo, que já tem mais de noventa e não se aposentou. Que Deus o conserve lúcido!
Em compensação, tenho amigos e amigas, da minha idade, ou mais novos, que já saíram do ar há muito tempo. Visito sempre uma amiga querida, muito doente, completamente atingida pelo “alemão”. Uma mulher forte, que criou os filhos com tanto sacrifício e não conseguiu aproveitar os últimos anos de vida.
A vida é uma passagem que Deus nos concede para ficarmos na terra. Precisamos aproveitar tal período com sabedoria, usando e abusando do presente recebido do Criador, pois não sabemos o dia de nossa partida.
Daí, porque, devemos exigir dos mais novos o respeito e a obediência. É irritante ver um jovem gritar com um idoso. Dá vontade de dizer: Reze para não chegar aos oitenta ou noventa anos ouvindo desaforo.
Gosto de ser idosa e ativa!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa