Um belo dia, ouvi de um médico amigo meu: “Não é só o rosto que envelhece. Todos os órgãos ficam velhos. É o caso de sua retina: está bem velhinha, desgastada”.
E aí, vamos passando dos oitenta e sentindo o enfraquecimento total. Basta um aborrecimento e o sono vai embora. A longa noite serve para pensar numa boa maneira de meditar sobre o caso e dele sair menos machucada.
Outro fato marcante é ver amigos irem embora. Recentemente, no velório de um colega, a filha me disse: “Acho que do tempo do meu pai, só restam a senhora e a Dione”. Ri e comecei a pensar no assunto.
Apesar de não gostar do Lula, assisti pela TV, a sua posse. Vi um homem envelhecido, deprimido, chorando, a voz corroída pela doença. Não acredito que viva mais quatro anos. Não entendeu que chegou a hora de parar.
Vi também, o Osmar Prado, artista de televisão, fragilizado, falando bobagens, perdido no meio de famosos mais novos. Já foi um grande ator. Poderia curtir a aposentadoria.
Cena ridícula foi passada pela mídia, de um político conhecido, que já foi até Senador. Na vinda de Bolsonaro a Alagoas, foi falar, chorou, disse palavrão e tomaram o microfone das mãos dele. Culpa do filho que deixou o pai causar o vexame.
Exemplo excelente de saber envelhecer foi o de Bento XVI. Quando sentiu que não poderia exercer as funções de Papa com o devido vigor, renunciou e recolheu-se. Foi meditar, escrever livros e dar conselhos. Morreu com 95 anos, tranquilo, sem se expor à opinião pública, que é perversa.
Desde que deixei a Presidência do Sindicato da Assembleia, no começo de 2000, não quis mais desempenhar nenhum cargo. Voltei para casa, continuei escrevendo meus artigos e ia sempre ao Sindicato dos Aposentados, sem nenhum compromisso. Somente para conversar e ajudar no que fosse preciso. Senti que minhas forças estavam menores e não quis ser chamada de velha.
Tenho o exemplo de um companheiro, com 85 anos, ainda trabalhando. Apesar de lúcido, lhe dispensaram de certas obrigações e os mais novos sentem o colega não ser mais o mesmo. Dado o sinal de Deus: hora de parar.
No meu caso, aos quase oitenta e dois, os avisos vão chegando: a visão está fraca, as pernas não suportam uma pequena corrida, exercícios físicos deixam sequelas em vários pontos do corpo. Fatos que levaram uma filha dizer ao irmão: “Mamãe está com pouca visão e fraca das pernas”. Todos riram, mas é a pura verdade.
Graças a Deus a “Velhinha das Alagoas” não foi atacada pelo “alemão”. Cabeça boa, escreve artigos, acompanha pela mídia o que acontece no Brasil, emite opiniões, discute sobre vários assuntos, administra sua própria casa.
Com o coração partido, visita amigas de sua idade “fora do ar”, em cima de uma cama, sem saber como se chamam. Outras, que apesar de não serem atingidas mentalmente, não saem mais de casa, vivem supervisionadas por filhos e netos. Há casos em que o próprio salário está na mão de seus supervisores.
Quero passar para os leitores o que assusta uma idosa, lúcida, capaz de tocar sua vida. É não saber como será o dia de amanhã, se precisará sair de sua casa e voltar a ser criança, comandada pelos filhos.
Já fiz algumas observações aos meus entes queridos: se eu “sair do ar” e precisar de cadeira de rodas, não me levem para locais públicos, não me exponham à opinião popular.
Rezo sempre para Nossa Senhora Aparecida: Quando não suportar os trancões da vida, leve-me, por favor.
Por enquanto, apesar dos pesares, estou bem, exijo respeito dos mais novos, procuro não incomodar os outros, choro, rio, sofro, mas ainda me acho uma velhinha feliz.
Continuo segurando nas mãos de Deus!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa