Jesualdo apesar de bonachão, as vezes perdia as estribeiras, lembro bem tínhamos treze anos de idade, quando em nossa turma Marista chegou um novato, porém mais velho e bem maior que os demais, sendo a sua diversão ameaçar e dar tapas em colegas.
De uma hora para outra resolveu espancar nosso herói que fugia dele como diabo evita a cruz.
Cansado de esconder-se, em sigilo, Jesualdo armou-se com o canivete automático pertencente a seu pai, porém sempre evitando o encontro com o provocador, até tal fato acontecer e quando se viu preso pelo colarinho da camisa, sacou a arma já com a lamina exposta, encostando-a na barriga do agressor que correu como uma gazela.
Esquecida a confusão, o brabão cujo apelido a boca miúda era Mané Banana, nunca mais se atreveu a bater em ninguém.
Certa vez Jesualdo estava assistindo ao treino do time adulto de basquete do Fênix Alagoano, quando um dos jogadores, sem motivo algum, lhe deu um cocorote, que a sua cabeça quase encosta na próstata, enquanto lagrimas desciam e todos riam do acontecido.
Triste com a situação, o agredido não deixou de pensar em vingança. Devido à diferença de idade e tamanho, o corpo a corpo era inviável, a seu favor existia a máxima que ensina: “quem bate esquece”. Então arquitetou plano infalível.
Nas terças feiras após o sol ir descansar, na pérgula da piscina do clube eram exibidos, somente para sócios que lotavam o espaço, filmes em cartaz nos cinemas da cidade. Naquela noite sem lua ou estrelas no céu, sabedor do exato local onde seu algoz sentava sempre na última fileira da plateia, posicionou-se por detrás de arbustos existentes, segurando uma banda de paralelepípedo.
No exato momento do apagar das luzes, atirou-lhe a pedra granilítica bem na nuca, e enquanto no escuro somente ouvia gritos, correu para outro extremo do salão, ali permanecendo.
Ainda hoje o atingido, nunca soube o porquê e de onde veio o verdadeiro coice recebido, que então lhe custou oito pontos cirúrgicos.
Jesualdo já adulto habitualmente frequentava um dos cartórios da cidade, sendo colega do proprietário com quem muito conversava sobre literatura. Naquele dia, tinha que enviar para São Paulo o contrato de aluguel do apartamento onde a sobrinha Germinia residiria, solicitando à amada Generosa para realizar a tarefa de reconhecer sua firma, fato não consumado, segundo o notário, por divergências de caligrafia.
Jesualdo estando no interior do estado, por telefone, falou com o tabelião, em vão.Tendo imediatamente retornado para resolver a pendencia.
Por incrível que pareça, o chefe do local, não aceitava nenhuma das inúmeras assinaturas que escreveu, mesmo comparando com o RG do requerente, para após falar: como é para você vou autenticar, é um favor que lhe faço.
Após a concretização do serviço, já de posse dos documentos, Jesualdo possesso que estava, sem contudo externar, tomou os papeis de supetão, para rasgar e arremessar no torax do homem, que quase enfartou.
Apesar de nem de longe ser um cidadão violento, o amigo outro dia falou jamais haver arrependido dos atos praticados. Pensei cá com meus botões: Jesualdo só pode ser do signo de gêmeos!!!
Alberto Rostand Lanverly
Presidente da Academia Alagoana de Letras