Durante a Semana Santa ouvi de vários sacerdotes a necessidade de saber perdoar. Em toda minha vida não aprendi a perdoar e a não guardar ressentimentos. Insisto na tecla do perdão, mas na prática, é difícil exercê-la.
Durante sessenta anos de casada, tive várias empregadas e empregados domésticos. A grande maioria trabalha durante anos em nossa casa. Depois, sai, vai à Justiça, mente descaradamente e sempre ou quase sempre, ganha algum dinheiro.
A Justiça do Trabalho é patriarcal. Dificilmente, entende os patrões. Muitas vezes, toda documentação é apresentada, mas o Juiz diz: “Ela foi uma boa empregada, trabalhou para a senhora durante anos”. Repliquei na ocasião: “E eu fui uma boa patroa”! Mas tive que pagar.
De outra feita, avisei ao Juiz: “Doutor, ela está mentindo”. E o magistrado respondeu: “Ouço mentiras há 20 anos”. Mas tive que pagar.
Pergunto aos meus leitores: A quem devo perdoar? Ao Juiz ou à serviçal?
Tive uma grande amiga durante mais de cinquenta anos. Conversávamos, trocávamos confidências. Teve um câncer, cuidei dela, chorei com ela. Ficou boa e tempos depois, por motivos pequenos, resolveu “me dar um tempo”. E se afastou de nosso gostoso convívio. Tenho uma imensa dor no coração, mas ainda hoje estamos separadas. Sinto falta dela, mas não consigo perdoar sua atitude. Só Deus amansará meu coração.
As lutas inglórias que travamos no Poder Legislativo de Alagoas não nos fazem entender as decisões judiciais. Vimos durante anos, perseguições, demissões, rebaixamentos salariais. Conseguimos recuperar alguma coisa quando encontramos Juízes e Desembargadores justos e humanos. A quem devemos perdoar? Ao Juiz, Desembargador, ou às várias Mesas Diretoras que passaram pelo Poder Legislativo?
Lutas políticas para eleições sindicais são outro caminho árduo. De repente, ouvimos e lemos afirmações de colegas que nos deixam chocados. “E preciso perdoar”, diz um amigo. Finjo que concordo com ele.
Há vinte anos, ouvi de um filho: “Mãe, quando a senhora ficar velha, as meninas, minhas irmãs, vão tomar conta da senhora”. Engoli seco e chorei. Ainda hoje, acordo pensando na frieza de tais palavras. Não havia necessidade de expressar seus pensamentos. Não sei se perdoei. Sei que não esqueço.
Presenciei um lindo ato de perdão. Um amigo meu foi perseguido por um colega, que o desligou de um curso. Anos depois, chegando ao Rio de Janeiro, descobriu que o falso amigo estava hospitalizado, com câncer em estado terminal. Visitou o colega e o perdoou. Foi emocionante!
As grandes mágoas são de difícil assimilação. Parece que o maior inimigo é sempre o antigo amigo mais próximo. Talvez por isso, seja tão difícil perdoar.
Lembro-me de minha infância feliz. Quando meu pai sabia que dois filhos haviam brigado, chamava os dois, conversava e fazia com que eles se falassem e parassem de brigar.
No ambiente de trabalho fazemos grandes amigas, mas nas casas legislativas há muita concorrência. Chamo algumas pessoas de “bajuladores de plantão”. São aqueles que vivem ao lado dos patrões procurando conversa e levando fofocas. Nem sempre conseguem o que pretendem. Merecem perdão?
Entretanto, rendo minhas homenagens a um colega, Diretor de Departamento da ALE, que só fez o bem. Eu o chamava carinhosamente de “Fantasminha Camarada”. Já faleceu e rezo para que esteja em um bom lugar.
Meus leitores queridos: não sei se estou certa ou se estou errada. Mas, peço muito a Deus que amanse meu coração e me ensine a perdoar.
Esquecer as mágoas é difícil. Conviver com pessoas que me magoaram também é difícil.
Quem sabe? Um dia saberei encontrar o difícil caminho do perdão.
Deus existe! Não duvidem!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa