O ciclo da vida é conhecido de todos: nascemos, vivemos e morremos. Uns vão embora cedo como João, meu filho. Outros envelhecem, mas também vão.
Desde criança fico imaginando para onde vamos depois da morte. Já assisti a vários filmes espíritas contando histórias a respeito do outro mundo. Como ele será na realidade? Vamos prestar contas do que fizemos na terra? Os mortos voltarão? De que maneira? Isso me faz pensar no fim de todos nós.
Quando era criança, tive um vizinho de nove anos que começou a cair. A mãe o levou a Recife e lá descobriram que tinha tumores no cérebro. Durou cinco anos, fez tratamentos rigorosos e, finalmente, faleceu. Nós crianças, de idades próximas, não entendíamos como um garoto de tenra idade poderia morrer tão cedo.
Escutamos no rádio e na TV notícias de pessoas que morrem de acidente. Saem para trabalhar e não voltam para casa. Dois exemplos bem conhecidos são as mortes de Juscelino Kubitschek e Ulisses Guimarães. Políticos famosos, vítimas de acidente de carro e avião.
Já estou com 82 anos e, vez em quando, fico pensando na morte. Vivemos, eu e meu marido, em eternos tratamentos médicos, mas, não sabemos quem vai primeiro e como vai. É uma permanente dúvida!
Lembro-me de meu pai e minha sogra que foram para a Unidade de Tratamento Intensivo – UTI, dos hospitais e de lá saíram horrorizados. Reclamaram do frio intenso, da comida sem gosto, de determinados tratamentos. Ela dizia: “Rezei muito em toda minha vida. Hoje, peço a Deus que me deixe morrer em casa.” Ela teve sorte; morreu enquanto dormia em casa. Ele morreu na UTI.
Sempre acreditei que existe um Ser Superior regendo nossas vidas. Cabe a Ele determinar a data em que passaremos para o outro plano. Daí, porque, não sabemos o que acontecerá conosco.
Perdi pai, mãe, tios, avós. Entretanto, a maior dor da minha vida foi perder meu filho João com 54 anos. Deixou uma linda família, foi um profissional competente, gostava de viver. Todos nós não entendemos por que ele foi tão cedo. Coisas de Deus.
Minha primeira grande perda foi minha avó paterna. Eu tinha quatorze anos e ela apareceu com um câncer de pulmão, pois fumava muito. Acompanhei os últimos dias dela, sem fôlego, pedindo que abríssemos as portas, que já estavam abertas. Dizia-me: “Alari, não tenho medo de morrer. Sei que errei muito durante a vida, vou ter que prestar contas do que fiz.” Eu, adolescente, nada entendia e só via um buraco negro na frente da minha querida avó, que se parecia comigo.
Assisti a um parente meu receber o diagnóstico de câncer, já adiantado. Ele me perguntou: “E agora, o que farei”? Respondi taxativamente: Vai se tratar e ficar bom. Está vivo, depois de sete anos da má notícia.
Recentemente uma amiga de longas datas perdeu um filho de ataque cardíaco. Criei coragem e liguei para ela. “Foi uma morte santa”, disse a amiga.
Estávamos em Fortaleza, numa reunião de velhos amigos. A despedida foi na casa de um querido companheiro. Na hora da saída, recebi um abraço bem forte de um deles, que me avisou: “Você não me verá mais; estou muito doente.” Logo, Deus o levou. Espero que esteja num bom lugar.
E assim vivemos nós, assustados com a ideia de que nosso dia está chegando. Não sabemos quando, mas sabemos que acontecerá.
Lá, pelas madrugadas, eu e meu marido trocamos opiniões a respeito da certa separação. Vivemos os dois sós, em nossa casa de Paripueira, construída com muito sacrifício. Os filhos moram em outros lugares, poucos parentes nos visitam, uns porque estão doentes, outros por falta de interesse.
E aí, estamos nas mãos de Deus. Aproveitamos o tempo que nos resta, cuidamos da saúde. Que Ele nos dê uma boa morte!
Para onde vamos? Não sei.
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa