Desde que comecei a trabalhar na Assembleia Legislativa, mocinha de dezoito anos, ouço falar em Previdência. Descontaríamos no salário um percentual para garantir nossa aposentadoria.
Minha primeira casa foi financiada pelo IPASEAL. Não sabia de onde vinha o dinheiro. Pensava que era verba do Estado.
Os servidores conseguiam empréstimos consignados e ainda havia atendimento médico e odontológico. Inocente que eu era, ainda pensava que o dinheiro vinha de verbas públicas.
Já mais madura, Vice-Presidente do “Velho Sindicato”, fui convidada para participar de uma reunião, cujo objeto principal eram as verbas do IPASEAL.
Vieram técnicos do Sul, Sudeste e também de Brasília. Diziam eles que o Instituto estava sem dinheiro para pagar aos aposentados. Precisávamos aprender sobre cálculos atuariais. Intrigada, perguntei aos moços sabidos: Para onde foram os descontos realizados em nossos salários durante tantos anos? Um deles respondeu: “Foram mal aplicados e indevidamente calculados”. Na realidade continuou o moço, nosso Instituto só poderia aplicar a verba que vinha dos servidores na área de saúde. Os outros tipos de investimentos eram proibidos. Moral da história: Desvio de verba.
Com tanta confusão, não quero dizer que nosso dinheiro foi mal aplicado. Os governos da época fizeram vários conjuntos habitacionais e os empréstimos ajudaram bastante nossos companheiros. Só que o dinheiro não vinha dos cofres públicos, vinha dos descontos efetuados em salários dos funcionários públicos. Éramos nós financiando para nós mesmos!
Tempos depois surge o Alagoas Previdência e de acordo com a nova lei, os inativos passaram a descontar para a nova instituição. E o dinheiro descontado por vinte, trinta anos, teve outra finalidade. “Entrou por uma perna de pinto e saiu por uma perna de pato…”, como terminavam as histórias de trancoso que nos contavam na infância.
Como se não bastasse tantos desencontros, um dos governos recentes retirou do Alagoas Previdência, autorizado pelo Poder Legislativo, uma alta quantia para pagar o décimo terceiro salário dos servidores públicos estaduais. Dessa vez, nós pagamos o nosso décimo terceiro salário. Se o alto valor voltou para as contas do AL Previdência, não sei dizer. Nada foi publicado, acho eu.
E o nosso sofrimento continua! O IPASEAL Saúde não consegue atender a todas as categorias. Os servidores inativos do Poder Legislativo foram colocados no Alagoas Previdência e até hoje não sabem quem responde por eles. O pagamento mensal é uma novela de suspense. Donde vem a verba? Os velhinhos da ALE estão lá e cá. Quando precisam de alguma documentação, não sabem o que fazer.
Não sei qual é a situação dos inativos do Tribunal de Justiça e do Tribunal de Contas. Se estão com uma perna lá e outra cá, como nós, é difícil explicar.
Tenho a impressão de que vamos morrer descontando quatorze por cento de nossa renda mensal para os cofres da previdência e que todos os valores poderão ser usados pelo Executivo, quando ele quiser.
No âmbito federal, nada é diferente. Os inativos civis e militares voltaram a pagar à Previdência. Os seguros que são pagos por vinte, trinta anos, também vão ser reduzidos. Já se fala que o dinheiro é pouco e não vai dar para honrar os compromissos.
Como sempre, as pessoas que administram o que sai dos salários dos servidores não conseguem devolver integralmente a parcela retirada da boca dos nossos filhos. Decidem, na hora de pagar, que algo está errado. E as viúvas, quando recebem os seguros, têm a triste notícia: Não é o que ela e o falecido esperavam. E nada acontece!
Fica a lição para os servidores estaduais e federais: Vocês pagaram à previdência durante trinta, quarenta anos e vão continuar pagando até morrer.
O dinheiro toma outros rumos, a vítima recebe a menor e a Justiça nada faz.
Só pedindo ajuda a Santo Amaro!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa
“as opiniões emitidas por nossos colaboradores, não refletem, necessariamente, a opinião do site”