A “Velhinha das Alagoas” anda saudosa, meio triste, meio alegre, irritada, amedrontada, querendo ser forte.
As primeiras lembranças vêm de uma infância alegre, no bairro do Farol. Naquela época, eram seis irmãos, frutos de um casal feliz, que se amava e procurava dar aos filhos uma boa educação em bons colégios. Nosso bairro era arborizado, nem todas as ruas eram calçadas. A juventude andava de bicicleta, jogava bola e vivia tranquila sem pensar em dívidas, inflação e outros problemas sérios.
Durante vários anos a menina loira vivia contente, frequentava a Igreja dos Capuchinhos e nem pensava em namorar. No Natal, as ruas do bairro eram alegres, as baianas do folclore passavam na porta de casa, o bonde fazia barulho e ia até o bairro da Pitanguinha. O pai, ainda moço, ia comprar na Helvética guloseimas vindas de fora para que os filhos conhecessem guaraná, amêndoas, queijo do reino, presunto, salame e muito mais.
Mas, a menina foi virando adolescente e as distrações eram outras. As festas de rua estavam no auge e a garota começou a se interessar por rapazes. Com 15 anos reencontrou um colega do Grupo Escolar Fernandes Lima e se apaixonou pelo jovem. Era aluna do Instituto de Educação.
Depois de cinco anos de namoro e um de noivado, os garotos se casaram e tiveram quatro filhos. Os anos iam passando, moraram em vários Estados e conseguiram formar os filhos, após muito trabalho.
Com o amadurecimento da “troupe” e a saída de todos para uma nova vida, a loirinha e o jovem cadete, então Coronel do Exército, voltaram a ficar sós. Ela, funcionária da Assembleia Legislativa, foi ser Sindicalista e ele engenheiro civil. Novas vidas, novas lutas, nascimento dos netos, boa vida amorosa e profissional.
Surgiu, com força, na jovem o desejo de lutar por sua categoria. Vivia o Poder Legislativo de Alagoas uma fase ditatorial: Deputado podia tudo, servidor nada podia. “Para o bem de todos e felicidade geral da Nação”, apareceram os Sindicatos, autorizados pela nova constituição. Fase boa, de descobertas; dentre elas, o direito de ir à Justiça reivindicar seus direitos. Os Deputados se assustaram, os servidores começaram a ver uma luz no fim do túnel.
A Mesa Diretora já não assustava mais! A Justiça era maior! Mesmo assim, a luta foi grande. O nepotismo na Casa de Tavares Bastos era enorme. Famílias inteiras eram colocadas na folha de pagamento, quem não tinha padrinho, precisava de um bom advogado. A Assembleia Legislativa chegou a ter cinco mil funcionários.
Hoje, três entidades defendem os companheiros. Os patrões descobriram que a Justiça é lenta. Eles erram e dizem aos funcionários: “Judicializem!”
Não sei se o momento atual é melhor ou pior. Só sei que a jovem sindicalista é uma velha senhora que ainda luta pela categoria.
Mas, chegaram as doenças e com elas correrias para médicos, laboratórios, emergências. Idosos, cansados, com passos lentos, pouca visão, falta de equilíbrio, vão os dois caminhando pela vida, rumo ao desfecho final.
Quem teve direito a uma boa vida, cheia de alegrias, de momentos bons, tem que agradecer a Deus. Entretanto, no meio de tudo isso, houve uma grande tristeza: João, o terceiro filho, foi chamado por Deus. Por que? Ninguém sabe. Só Ele!
Apesar dos pesares, eles, os velhinhos, têm mais três filhos, onze netos, quatro bisnetos e precisam continuar vivendo. Até quando Deus quiser!
De noite, deitados, precisam pensar nos bons momentos, agradecer a Deus, sonhar com o João.
A velha senhora bem que queria voltar a ser a loirinha do Instituto de Educação!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa
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