Vida que segue.
Os filhos foram nascendo e o casal morando em vários Estados, conhecendo muita gente boa. O Exército Brasileiro foi proporcionando à família selecionar novos amigos e ganhar parentes do coração.
Deus escreve certo por linhas tortas e a cada transferência vinha uma nova preocupação. Mas, sempre procurava se adaptar aos costumes do novo lugar e solucionar os problemas que surgiam. Ficaram boas lembranças de Garanhuns, Recife e Rio de Janeiro.
Voltando a Alagoas, com os filhos crescidos, iniciou uma nova vida. Três dos quatro rebentos não puderam vir; faziam faculdade e trabalhavam. Nessa época, voltei ao Legislativo, após ter ficado emprestada a várias entidades diferentes.
Começou a luta como sindicalista, tempo em que foi aprovada a nova constituição brasileira e os servidores puderam reivindicar seus direitos, reclamando na Justiça. Os dirigentes se assustaram com a nova etapa do Legislativo e os embates foram fortes, cheios de ameaças. Tudo mudou na Casa de Tavares Bastos: a categoria passou a ser respeitada.
Criamos nosso sindicato, fundamos a cooperativa de saúde (COPAMEDH), construímos o Clube Legislativo e a sede da entidade. As Mesas Diretoras passaram a tratar melhor os servidores, entretanto sempre que podiam, perseguiam os novos líderes. Até ameaça de morte aconteceu. Sobrevivemos para contar nossa história. Aos amigos que lutaram conosco naqueles dias, um abraço fraterno e a certeza de que não seremos esquecidos.
Paralelamente à luta profissional, a cinquentona foi vendo os netos nascerem e a família crescer. Muito cedo perdeu os pais e ficaram oito irmãos, tentando viver juntos, sem separações. Infelizmente não se conseguiu, pois há sempre uma ovelha negra em quase todo grupamento familiar.
A mãe da “Velhinha das Alagoas” morreu cedo, aos 60 anos. Todos nós temos uma dívida de gratidão à cunhada Lineuza, casada com José. Como as quatro filhas estavam fora, foi ela que cuidou de Da. Salvelina, já falecida e a colocou no caixão. Leu querida: Deus a abençoe sempre.
O tempo foi passando, os filhos se formando e os netos aparecendo. E lá se vão os dois, administrando problemas, agora morando em Maceió. Alguns irmãos foram morrendo ainda jovens e os que ficaram sofreram demais com as várias perdas. Como Deus é muito bom, tentamos retornar à vida normal.
De repente, mais que de repente, os dois foram ficando velhos. As forças diminuindo, a cabeça fervendo, sempre procurando dias melhores.
Como num passe de mágica, os netos cresceram e começaram a tomar novos rumos. Foi aí que apareceu o “Paraíso da Vovó Alari”, lugar lindo, nossa nova morada, onde a família passou a se reunir em grandes e pequenos eventos. Tempo de muita alegria, várias comemorações. Além dos filhos, netos, genros, nora e parentes, vinham os amigos. Agradecíamos a Deus por tudo que nos deu, como dizia uma filha mais velha e “tocamos o barco”.
Contudo o tempo urge e o casal chegou aos oitenta anos. Não dá mais para correr, passar noites em claro e as caixinhas de remédios foram aumentando. Consultas médicas, não pode isso, não pode aquilo e o mais importante: estão lúcidos, levando sua vida com tranquilidade.
Esta fase final da vida é difícil. Os filhos se preocupam por estarem longe dos pais, mas os amigos presentes nos ajudam. Algumas vezes em que precisaram ser hospitalizados, contaram coma ajuda de pessoas que com eles trabalham.
A “Velhinha das Alagoas”, oitentona, não quer ser injusta citando nomes dos que a rodeiam. Entretanto de uma coisa, leitor amigo, pode ter certeza: a âncora forte e firme que segura a pobre anciã é seu marido e seus filhos.
Deus existe. Não duvidem!
* É aposentada da Assembleia Legislativa.
Alari Romariz Torres *
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