O Natal é época de recordar os velhos tempos e verificar erros e acertos. Alguns dizem que é tempo de reconciliação, mas eu discordo. Faz bem à saúde e à alma repensar alguns atos e verificar onde errou, onde acertou.
Na infância e na adolescência aprendemos as regras do bom viver: não minta, não roube, não maltrate seu irmão, ajude-o na doença, nos problemas, nas amarguras. Mas a realidade da vida é outra, bem mais dura. Os irmãos vão casando e outras famílias se integram à nossa. São novos pensamentos, novas formas de educar e, nem sempre, tudo corre normalmente.
Quando um parente adoecia, corríamos para o hospital a fim de visitá-lo. Com a pandemia tudo mudou. Ninguém visita ninguém e o terror da intubação assusta os familiares. Outro fato que afasta os parentes do hospital é a tal infecção. Assim, se qualquer ente querido for hospitalizado, os outros sofrem para saber notícias. Na pandemia ouve até enterro com o defunto trocado. Acabou-se a assistência familiar!
Reunião de parentes, festa de fim de ano, confraternização natalina, tudo está proibido. Nada de aglomeração, juntar família grande é impossível. Criou-se, então, o afastamento entre parentes e amigos. Visitar alguém nos dias de hoje é coisa rara! Até os vacinados estão tendo COVID! Então, devemos ficar em casa, de máscara, longe de tudo e de todos!
Ficou difícil ajudar irmãos e amigos. Todos olham para seu umbigo e não querem saber do sofrimento dos outros. Quando morrer, quase ninguém vai ao enterro, porque cemitério é área de risco!
Vivo pedindo a Deus que não permita termos necessidade de internação num hospital. Outro dia, meu marido foi atendido numa emergência, tomou tramal e voltou dirigindo de Maceió para Paripueira. Havia o risco de ficar tonto no meio do caminho. Um irmão ofereceu ajuda, mas ele não aceitou. Estávamos saindo de um hospital e havia o perigo de contaminação.
Parece que a pandemia levou o amor existente entre as pessoas! O medo de um possível contágio endureceu o coração de alguns e não os culpo por isso. São as leis da vida!
Convivo com idosos num sindicato do Legislativo e a maioria desapareceu. Vez em quando aparece um, com aspecto doentio, contando as peripécias do dia a dia. Diz “Moro só, e sofro do coração; sou separado e meus filhos são ocupados”. Outra, bem risonha, avisa que as danças do SESI e da Fênix recomeçaram; vai pagar bem a um menino novo para dançar com ela e dá gargalhadas. São os desencontros da vida!
Mãe, diz uma filha, encontrei o Tio Fulano, amigo do papai. Ele está ótimo! Mas o Tio Sicrano está encurvado, velhinho! Vamos ao aniversário do primeiro no Recife, em janeiro. Rimos com as novidades!
Mas o Natal vai chegando e não poderemos ver todos os parentes e amigos. Visitaremos os que não nos abandonaram e com quem ainda podemos contar. Lembraremos as confraternizações anteriores, quando não havia pandemia, mágoas, ingratidões e juntávamos as famílias dos irmãos e das irmãs para agradecer o que havíamos recebido. Pelo menos, teremos as fotos registando os velhos e bons tempos.
A vida segue e vamos juntando filhos e netos, mostrando ao “bom velhinho” que estamos bem, com poucos problemas. Colhemos o que plantamos e passamos para os filhos o que apendemos com nossos pais.
A verdade é que o mundo está de “cabeça para baixo”: acabou-se o cuidado entre familiares, o amor fraternal, a ajuda entre parentes e amigos. Até a pessoa a quem você ajudou, fica em cima do muro, desaparece. Outros que poderiam ajudar os irmãos, não o fizeram.
Resta-nos pedir ao “bom velhinho” que traga paz ao mundo, acabe com a COVID, destrua a corrupção, junte as famílias, mostre a parentes e amigos o valor da união e do amor entre eles.
Como acredito em Papai Noel, já armei minha árvore de natal, vejo a Missa diariamente, tento viver bem com os amigos e parentes, dizendo sempre o que penso. Já vivi dezenas de reuniões natalinas, junto aos meus entes queridos, independente de pandemia.
Feliz Natal para todos: os que ficaram e os que se foram!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa