Apesar de ser muito comercial, ele, o Dia das Mães, mexe com o coração de todos nós. Perdi a minha muito cedo, mas dela tenho boas lembranças.
Lembro-me sempre dos filhos complicados, presos, escondidos por aí, mas sabem que uma mulher reza por eles, estando pronta para recebê-los.
Impressiona-me a Cracolândia em São Paulo. Vejo entrevistas de homens e mulheres drogados, sumidos de casa. Tenho pena deles, mas penso sempre na mãe que está perdendo o filho para as drogas.
Uma senhora idosa, da família, tinha três filhos e falava muito no mais novo. E nós perguntávamos a ela: “Por que só fala nele”? Imediatamente, respondia: “Ele é o mais precisado”. E era verdade.
Outra jovem mãe justificava sempre o filho mais velho, por mais que ele errasse. Chegava ao ponto de retirar o castigo dado pelo pai. Pior, muito pior: não tinha justificativa para nada. Pensava a irmã mais nova: Ele deve ser mais bonito, mais inteligente.
O sonho da minha sogra, muito católica, era ter um filho padre. Dos quatro filhos homens ninguém quis. Um deles respondia: “Padre não pode casar”.
Sempre analisei, como mãe, que o homem tende a se inclinar para o lado da família da mulher e, com isso, afasta-se um pouco dos pais. Com o decorrer dos anos, vi tal fato acontecer. Entretanto, tive bons exemplos, dentro ou fora da família, de filhos homens que se dedicaram demais a seus pais. Mas, a intimidade é maior com as filhas.
Fico horrorizada quando vejo ou leio casos de pais idosos colocados num asilo, porque não há espaço para eles na casa dos filhos. Tento compreender as justificativas, mas não consigo. Observo algumas mães dizerem que escolheram um lar de velhinhos, mas sempre penso que é “da boca para fora”. Pode haver muita organização nos asilos, contudo não dá para ver os filhos e com eles trocar ideias.
Converso vez em quando, com mães adotivas e procuro sondar como é o relacionamento com os pequenos que criaram. Vejo histórias interessantes. Uma pequena de dez anos perguntou à mãe adotiva: “Porque a minha mãe não me quis”? E ela respondeu: “Sua mãe não podia criar você e procurou alguém que pudesse fazê-lo”. Sábia resposta. Meus respeitos às mulheres que adotam crianças e conseguem criá-las com amor.
Os filhos vão crescendo, estudam, começam a trabalhar e casam. Seguem a lei natural da vida ou não. Mas, com certeza, principalmente os homens mudam muito e é preciso a mãe administrar a mudança. Outro dia, um filho me disse: “Mãe, saí de casa há mais de trinta anos; sou outro homem”. Pensei e respondi: Mas não deixou de ser meu filho! Para nós, mães, os filhos serão sempre os filhos.
Uma mãe de quase noventa anos viu um filho de setenta falecer. Chorando, ela dizia: “Bem que eu achava que ele não se criaria”. Parece piada, mas é a pura verdade.
Meus filhos, atualmente, já têm netos e um disse-me certo dia: “Agora eu entendo porque a senhora viajava tanto para nos visitar; estou nessa fase”. Antes tarde do que nunca, pensei.
A realidade atual é triste: Avós e mães estão sustentando filhos e netos, algumas até exploradas por eles. Converso com idosos e fico chocada com fatos que me são narrados. “Alari, disse uma, um neto tomou meu cartão do banco e tirou um empréstimo no meu nome”.
Ainda vemos famílias normais onde os pais são respeitados. Conheço uma mãe de noventa e quatro anos, que já perdeu dois filhos, mora só e é cuidada pelo filho mais novo, que a visita diariamente e cuida dela com amor e carinho.
Não posso reclamar da vida: tenho dois filhos homens e duas mulheres. Moro com meu marido e tenho assistência dos quatro rebentos. Graças a Deus, somos lúcidos e administramos nossos problemas.
Às mães sofredoras, meus respeitos e minha solidariedade. Àquelas felizes, meu abraço fraterno.
Nas horas de sofrimento, tenho vontade de gritar como criança: Eu quero a minha mãe!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa