Qualquer que tenha sido o escândalo protagonizado por Paulo Dantas (MDB), governador de Alagoas que concorre à reeleição — E ISSO NA HIPÓTESE DE HAVER UM —, não será certamente tão escandaloso como uma operação policial deflagrada na boca da urna, a 19 dias do segundo turno, sendo o Estado palco não só do embate nacional — e Jair Bolsonaro tomou uma surra ali —, mas também território de uma disputa local: entre o senador Renan Calheiros (MDB), aliado de Dantas, e Arthur Lira (PP), presidente da Câmara.
É evidente que uma ação deflagrada nessas condições, a pedido da Polícia Federal e com a anuência da Procuradoria Geral da República, não ignora o óbvio e consequente impacto político-eleitoral. “Ah, mas então se deve deixar prosperar o malfeito em razão da eleição?” Ainda que ele tenha existido, a pergunta está errada. Consta que eventuais irregularidades apresentadas datam de 2019. E se decide por esse espalhafato a três semanas do pleito? Inaceitável!
Não só se autorizam os mandados de busca e apreensão como se afasta o governador por 180 dias como consequência de uma operação que acaba de ser deflagrada? Convenham: não é um procedimento de investigação, mas de condenação antecipada. E, como de hábito, vem a público a imagem de dinheiro vivo encontrado em algum lugar — antes de ser convertido em imóveis, não é mesmo, Bolsonaros? —, sem que se saiba exatamente de quem ou qual a sua ligação com o governador afastado.
Há coisas do arco da velha. Lula estará em Maceió nesta quinta. O petista venceu Bolsonaro em 94 dos 102 municípios do Estado. Em votos válidos, 56,5% a 36,5% dos votos. Dantas, agora afastado, apoiado por Renan Calheiros e por Lula, venceu Rodrigo Cunha (UB), o candidato de Lira, em 83 cidades, por 46,64% a 26,79%. Pesquisa Real Time Big Data, publicada nesta terça, aponta que o governador que sofreu a ação venceria a disputa por 59% a 41%.
O fedor da manipulação política sai por todos os poros. Ontem, a, digamos, periferia dos apoiadores de Cunha, o homem de Lira, anunciava nos meios políticos de Alagoas “uma bomba” para hoje. A bomba está aí.
O curioso é que a acusação original contra Dantas estaria ligada a um esquema de rachadinha ao tempo em que era deputado estadual. Curioso por quê? Era a mesma que pendia sobre a cabeça de Arthur Lira. Entre 201 e 2007, ele teria liderado, segundo acusou o Ministério Público de Alagoas, um esquema que teriam movimentado R$ 254 milhões dos cofres públicos.
Artigo: Reinaldo Azevedo