Do alto dos meus 82 anos de idade, começo a me assustar com o modo de viver de jovens adultos no momento atual.
Vamos iniciar pelo casamento: quase não existe mais. A moda agora é a união estável. Já se tornou tão comum, que dá a duas pessoas os mesmos direitos dos casados oficialmente. É incrível como os jovens se conhecem num dia e no outro já dormem juntos. Outros, até se conhecem pela internet e passam a viver maritalmente. A liberdade é tão grande que atemoriza a velha senhora.
Moro numa casa de praia e recebo muitas visitas. Algumas atitudes são incrivelmente chocantes. Presto muita atenção na hora das refeições e é nessa ocasião que vejo como os menores estão sendo criados. Algumas mães, com raras exceções, não fazem o prato da criança. Ficam no celular e deixam os filhos estragarem a comida gostosa. O menino ou a menina faz um prato bem grande e não come nem a metade. O resto vai para o lixo!
Outro dia, num supermercado de Paripueira, vi uma mãe dizendo: “Lá em casa, não coloco a comida na mesa; forro uma toalha no chão, em frente à TV e lá comemos”. Não resisti e perguntei: Como seus filhos vão aprender a comer? Ela não respondeu.
Lembro-me da infância de meus filhos. A vida era corrida, em cidades diferentes, mas eu e meu marido tentávamos fazer uma refeição com as crianças. Até conversávamos sobre o nosso dia e ensinávamos a elas a se comportarem na mesa.
Hoje, vejo em restaurantes, durante a semana, famílias inteiras almoçando e os menores fazendo o próprio prato. Deve-se isso à vida corrida no momento atual, a quase inexistência da empregada doméstica, substituída pela diarista e ao fato da maioria das mães trabalharem fora de casa.
A falta de respeito no trato entre pais e filhos é grande. Certo dia, ouvi uma filha falando ao telefone: “A senhora é maluca, é idiota, esqueceu os remédios”? Fiquei pensando: Será que fala com a mãe? E era mesmo!
Convivo bastante com netos e bisnetos e sempre há respeito entre nós. Se algo de estranho acontece, tento logo corrigir.
Vi um genro tirar brincadeiras dúbias com uma amiga minha e não gostei. O respeito mútuo é fundamental! Brincadeiras ofensivas com idosos levam a um caminho desrespeitoso. Tudo é permitido dentro da boa convivência.
Podemos ser amigos de nossos filhos sem deixar que o respeito saia do convívio familiar. Ouço palavrões aqui e acolá, finjo que não escuto, mas, até o palavrão tem hora para ser dito.
A TV e a internet mostram festas realizadas nas universidades, com drogas, pessoas nuas e tenho pena daqueles jovens. Não entendo onde está o aprendizado naqueles bacanais em escolas de nível superior. O que de bom sairá dali?
No ambiente de trabalho é preciso que as pessoas se respeitem. Trabalhei por mais de quarenta anos em várias repartições públicas e sempre tive cuidado com isto. Aprendi com meu pai a me comportar, não permitir brincadeiras ofensivas e ser amiga dos colegas de trabalho, respeitando a individualidade de cada um.
Sem tentar generalizar, assusta-me a vida de jovens crianças no Século XXI. Moro numa cidade pequena do litoral alagoano e encontro meninas de doze, treze anos, já com um filho no braço. Não estudam, não trabalham e trazem mais uma criança para a casa paterna.
Na realidade, veremos o resultado de tanta liberdade com o passar dos anos. Será que o conservadorismo dos mais velhos estava errado? Acabar com o casamento e tentar vários parceiros, seria mais certo? Deixar os filhos mais soltos, mais livres, seria positivo?
Dói no meu ouvido ser chamada de “velha” ou de “tia” por adolescentes agressivos, ou mesmo pelos “flanelinhas” dos sinais de trânsito. Finjo não ouvir, procuro saber como se chamam e repito o nome deles.
Tudo isso são pensamentos de uma idosa amedrontada com tanta liberdade e tanto desrespeito. Aprendi, no entanto, a conviver com netos e bisnetos, fingindo que tudo é quase natural, reclamando quando necessário.
Eita velhinha assustada!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa