Rede tem ‘guerra’ de abaixo-assinados e acusações de ‘golpe’ e ‘farsa’ na véspera de congresso
Amigas que se conheceram na política e passaram a se respeitar: Marina Silva e Heloisa Helena protagonizaram cenas de amizade, ternura e de projetos em comum para o Brasil.
Na última eleição, Marina deu mais sorte do que Heloisa nas urnas. A primeira foi eleita deputada-federal por São Paulo e Heloísa ficou na suplência pelo Rio de Janeiro.
No segundo turno, na guerra quase fratricida da eleição Lula x Bolsonaro, Marina Silva resolveu aderir à campanha de Lula novamente (haviam rompido politicamente no passado depois de ter sido ministra dele) e Heloísa Helena ficou neutra.
Com a nova eleição de Lula, Marina, logo passou a ser ministeriável, participou do grupo de transição e foi nomeada pela segunda vez Ministra do Meio Ambiente. Heloísa, ao contrário, seguiu sua militância partidária criando alianças com outros partidos e salvando a REDE da degola da cláusula de barreira, mergulhando em suas convicções políticas, mantendo o silêncio.
Marina se mostrou ‘adaptada’ aos novos tempos e ao novo emprego, em que pese ter um mandato. Heloisa manteve sua postura ideológica.
Mas a posição política de cada uma parece ter ruído também a amizade e o respeito.
Nos bastidores a REDE ferve. O jornalista Raul Monteiro escreveu em se blog que a realização do congresso nacional da Rede Sustentabilidade, previsto para ocorrer entre sexta-feira (14) e domingo (16), em Brasília, tem dividido lideranças e filiados do partido de forma inédita.
“Nos últimos dias, passaram a circular nas redes sociais dois abaixo-assinados —um deles, defendendo o adiamento do encontro, e outro, a sua manutenção.
O primeiro, associado à ala da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, pede que o evento seja remarcado para o mês de maio. O segundo, apoiado por adeptos da corrente da ex-senadora Heloísa Helena, diz que “adiar o congresso da Rede é golpe”.
De acordo com pessoas ouvidas pela coluna, esta é a primeira vez na história da legenda em que uma divergência em torno de um congresso extrapola as instâncias internas de deliberação e chega à arena pública.
Entre as motivações apresentadas pelo grupo que defende uma nova data para a conferência estariam os gastos elevados com passagens aéreas, uma suposta desvantagem que seria imposta à ala política de Marina e a falta de programação do congresso partidário.
Os custos com a emissão de passagens aéreas para delegados estaduais ultrapassariam a cifra de R$ 1 milhão, segundo o abaixo-assinado, já que os nomes ainda estariam sendo homologados e os bilhetes seriam comprados em cima da hora. O valor seria pago com o fundo partidário.
Além da defesa da redução de gastos com recursos públicos, o grupo favorável ao adiamento diz que a ministra Marina Silva, o deputado federal Túlio Gadelha (Rede-PE) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) farão parte da comitiva presidencial que irá a China nesta semana e, portanto, não poderão participar do congresso.
“Três das principais lideranças da Rede, os nossos eleitos nacionalmente, são presenças das quais não podemos prescindir neste momento de celebração, de debates, de tomadas de decisões e de encontro e diálogo com nossas bases”, afirma o documento, que já coletou cerca de 700 assinaturas.
O texto ainda diz que o grupo integrado pela ex-senadora Heloísa Helena, hoje presidente da Rede e integrante de ala oposta à de Marina, seria beneficiado pela ausência da ministra e de Túlio Gadelha no congresso.
Em resposta ao pedido de adiamento, foi lançado no domingo (9) um novo abaixo-assinado —dessa vez, a favor da manutenção do evento partidário nesta semana. Segundo seus organizadores, mais de mil pessoas já aderiram a ele em menos de 24 horas.
Para o grupo associado ao segundo manifesto, a ala de Marina Silva tenta adiar uma eventual derrota na eleição da executiva nacional da Rede e, por isso, pede novas datas.
Marina apoia a eleição da presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana, para a presidência da Rede, enquanto Heloísa disputa a reeleição.
“Ao invés de buscarem construir a unidade para sairmos juntos do congresso, buscam artifícios burocráticos para consolidar uma farsa. Enquanto nós da Rede pela Base [corrente de Heloísa Helena] estamos lutando pela unidade partidária, alguns dirigentes trabalham para aumentar ainda mais os conflitos”, diz o texto.
“Em respeito às decisões das instâncias partidárias, a todos e todas que organizaram suas vidas acreditando na seriedade das deliberações da Rede e em cumprimento ao regimento interno de nosso congresso, amplamente debatido e aprovado sem ressalvas, a data do congresso deve ser mantida”, finaliza.
A ala que defende a realização do congresso nacional da Rede diz ainda que “centenas de militantes já adquiriram suas passagens e reservas de hotel”, e que a ministra e os parlamentares que viajarão à China poderão votar de forma remota”.