Por nossas casas serem próximas, conheci Gilberto Macedo, bem jovem ainda, em uma época em que os vizinhos, formavam verdadeira confraria familiar, cujo regimento e estatuto, eram inteiramente fundamentados no respeito e consideração.
Ele, marido de Dona Carmen, pai de Rosangela, Maurício, Tuca, Carmita e Rosana, amigo dos meus genitores, enquanto eu, colega inseparável de seus filhos, principalmente aqueles de minha faixa etária.
Apesar de médico, professor, escritor e membro da Academia Alagoana de Letras, naquela época em que jogar ximbra, brincar de queimado e garrafão no meio da rua, ainda em chão de barro, e frequentar as aulas no Colégio Marista, eram meus fortes interesses, para mim, ele se tratava de uma figura culta e diferenciada.
Em Gilberto, encantava-me seu sorriso permanente, o amor por seus rebentos, carinho pelos amigos destes e principalmente por deixar explícito, apesar dos títulos e importância profissional que possuía, ser a simplicidade, algo intrínseco em sua alma.
Quantas vezes, interrompia os afazeres para transportar em seu veículo Caravan Chevrolet, os meninos da Rua Santa Cruz, no Farol, quer seja para treinar ou assistir a jogos do CSA no Campo do Mutange, o estádio Gustavo Paiva. Tudo isso sempre feliz, parecendo de um instante para outro, saber desacelerar das responsabilidades profissionais cotidianas, e apreciar momentos junto a gurizada, como único e especial.
Nunca esqueci, quando fui informado que Doutor Gilberto, era assim que o chamava, havia sido entronizado como membro efetivo da Academia Alagoana de Letras, ocupando a cadeira de número quarenta, e a partir de então considerado “imortal”. Vinha ele caminhando pela calçada com seu irmão Silvio, também integrante da centenária Instituição, quando questionamos o significado de tal apelido. Rapidamente, ambos, quase que em coro responderam: “é não ter onde cair morto”.
Os tempos passaram, e hoje já possuidor de idade superior àquela em que ostentava Doutor Gilberto, à época em que o conheci, fico feliz por ter tido a oportunidade de convivermos em minha infância, início de adolescência, e também na fase adulta, uma vez que chegamos a ser contemporâneos como docentes da Universidade Federal de Alagoas, ele encantando seus alunos de psiquiatria e psicologia, na medicina enquanto eu convivendo com futuros engenheiros e arquitetos no Centro de Tecnologia.
Detentor de estilo literário diferente do meu, lembro bem da facilidade tida ao rapidamente absorver o conteúdo de um dos seus trabalhos mais aclamados, justo o que tratava da vida e obra de Aurélio Buarque de Holanda e ao concluir a leitura, restei certo de que um bom livro não termina nunca, pois ele se esconde dentro de nós.
Dizem que um livro quando conhecido, transforma-se em amigo para toda a vida. Gilberto Macedo, verdadeira enciclopédia, é desses modelos, pois mesmo desmaterializado, encanta quer seja através de seus escritos ou exemplos de comportamento legados à posteridade, havendo conseguido demonstrar de forma singela, com seus atos ser sua humildade, a parte mais bela da sabedoria que sempre possuiu. VIVA Gilberto Macedo em seu Centenário.