Quando morei na Jatiúca, a década de 90 estava terminando. Nos fins de semana, via adolescentes, moças e rapazes, na praia, bêbados, praticando atos muito loucos. Alguns ficavam em cima de carros em movimento, despidos, querendo demonstrar valentia. Ou então, organizavam corridas de automóveis, fazendo o que eles próprios chamavam de “cavalo de pau”. Os pescadores da balança do peixe assistiam horrorizados às cenas desastrosas.
Normalmente, os jovens, em sua maioria, a partir dos quinze, dezesseis anos, começam a frequentar festas noturnas e consumir álcool. Tudo se inicia como brincadeira e alguns vão ficando viciados.
Dentre todas as drogas, o álcool é o pior, creio eu. É vendido facilmente e em festinhas de adolescentes faz parte do cardápio. Logo cedo, a juventude se acostuma a beber cerveja, uísque e outros mais. Tudo isso leva às doenças graves ou à própria morte.
Existem certas drogas que são proibidas, mas são consumidas. Quando alguém entra na dança da maconha, do crack e de outras drogas, caminha para o abismo e dificilmente voltará à vida normal. Em Vitória do Espírito Santo, um grande amigo lutou dezenove anos para salvar um filho. Era um menino lindo, calmo, tímido e com quinze anos foi levado ao vício pela irmã mais velha. Só com 34 anos, graças a um frade da cidade, conseguiu sair das drogas. Era meu afilhado e acompanhei o sofrimento dos pais. Ficou cheio de sequelas.
Quem assiste pela TV cenas da Cracolândia, fica assombrado com os relatos dos jornalistas. São casos de pessoas morando nas ruas, longe da família, adoecidos pelo consumo de crack e ouros produtos maléficos.
Ainda existe muita gente boa, preocupada em recuperar pessoas que se perderam pelo consumo de álcool e de drogas pesadas. Instituições, clínicas especializadas, psiquiatras e algumas ONGs são responsáveis pela eterna luta de combate ao sofrimento de bêbados e drogados. Dizem os mais entendidos, se tratar de compulsão. Para sair da crise é preciso querer e procurar ajuda. Entretanto, é difícil e o caminho é longo.
Perdi um filho por causa do álcool. Começou na época do ensino médio. Ia às festas e gostou da cerveja. Foram trinta anos de bebida! Era um moço alegre e inteligente. Sabia que precisava deixar de beber, mas não tinha forças para tal atitude. Já doente, no dia de aniversário do pai, disse-me: “Mãe, só bebo até hoje”. Foi tarde demais. Morreu um ano depois.
Nós, familiares, temos culpa no fato de a bebida fazer parte de qualquer reunião. Há pessoas que não entendem um aniversário, um casamento ou qualquer festa sem a oferta de álcool. Talvez, seja porque ainda há muita desinformação a respeito do assunto. Eu mesma, só vim entender o alcoolismo após ele entrar em minha vida. O que parece alegria, euforia, é um caminho para a doença e a morte.
Gostaria de alertar a pais de adolescentes, para o perigo que correm quando seus filhos vão às festas.
Não quero citar entidades que se preocupam com o álcool e outras drogas por medo de esquecer algumas. Mas, já fui a vários encontros do AA, Alcoólicos Anônimos, e fiquei encantada coma filosofia deles. Muita gente saiu do vício com a ajuda da AA. Meus respeitos a tão bonito trabalho.
Atualmente, em nossa família, quase todos nós deixamos de beber. Quando há reuniões em nossa casa, aviso logo: Não haverá bebida alcoólica; quem quiser, pode trazer. Perdemos vários amigos por causa disso, mas, não ligo.
Nosso sofrimento foi muito grande; conseguimos salvar o outro filho, que lutou muito pelo irmão mais novo.
Se você tem na família alguém que bebe álcool em demasia, procure ajudá-lo, recorra ao AA, reze e peça ajuda de Deus.
Ele vai aprender a viver um dia de cada vez, abandonar a bebida e a droga, praticando o lema do AA: SÓ POR HOJE!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa