Outro dia estando em uma destas filas que levam horas para evoluir, notei à minha frente, jovem senhora falando tanto, a ponto de em pouco tempo, já saber bem mais sobre ela do que a respeito de pessoas há muito conhecidas: Completara quarenta anos e estava desempregada; a embreagem do seu carro quebrou, no mesmo dia em que torcera o pé, na escadaria de acesso à casa; O cachorro morreu e o marido constantemente chegava em casa embriagado; Seu nome era Abrilina Agrícola Amado Almeida mas detestava ser assim chamada…
Realmente, meus ouvidos ficaram expostos a tremenda cascata de notícias as mais variadas, enquanto os olhos se impressionavam com o movimento corporal da interlocutora, que ao se expressar, parecia interpretar as palavras mexendo braços, pernas e fazendo “caras e bocas”.
Sem movimentar um único músculo do rosto, mesmo quando ela me encarava, na expectativa de uma concordância com sua conversa, meu pensamento vagueou no tempo e lembrei de três ensinamentos aprendidos logo cedo: falar pouco e ouvir mais. Pedir a benção a meus pais, não somente como forma de respeito, mas também para obter a proteção necessária frente às jornadas impostas pela vida, e por último, fazer sem nunca esperar comentários de aplausos vindos de terceiros.
Finalmente me vi livre daquela ladainha impossível, mas meu raciocínio se manteve fixado nos aprendizados de outrora, chegando à conclusão de que realmente muita coisa mudara. As pessoas adoram tagarelar, elogiar, prometer e não cumprir, e muitas vezes não sabem ser gratos aos episódios que fazem por merecer.
No limiar do Natal, deslocando-me por entre as luzes que enfeitam as avenidas da orla da cidade, meditei sobre muitos fatos responsáveis pela história dos últimos meses, convencendo-me que apesar das dificuldades, a grande maioria das ocorrências boas estiveram acima da média, trazendo sorriso, alegria e felicidade.
Evidentemente, gostaria de haver conseguido um pouco mais, apesar de que analisando os fatos, estou convencido de que ao invés de desejar o que não veio, devia mesmo era satisfazer-me com o conquistado, porque um dia aprendi que a arte de reconhecer, liberta o homem de expectativas e ansiedades, reconciliando-o com os fatos como eles são.
Entendo que graças ao agradecimento o ser humano adota posições vitoriosas e estabelece sintonia positiva com o que é bom e correto.
Vivenciando pois mais um dezembro, digo a quantos comigo conviveram (inclusive Abrilina Agrícola Amado de Almeida cujo nome jamais esquecerei), talvez não existirem palavras suficientes para agradecer a todos como merecem.
Mas dirijo termos de congratulação, justo a você leitor deste texto, pois sua ajuda e apoio foram fundamentais para mim.
Muito obrigado! Com todo carinho e de coração, eu retribuo. Minha eterna gratidão será sempre sua.
Alberto Rostand Lanverly
Presidente da Academia Alagoana de Letras
Presidente da Academia Alagoana de Letras