Acabamos de passar pela época de Natal e Ano Novo. Tempo em que recebemos e damos presentes a amigos e familiares.
Lembro-me da minha infância, quando ainda acreditava em Papai Noel. Em 1947, com 6 anos, ganhei uma boneca negra e meu irmão mais velho, uma bicicleta. Fiquei com raiva do “Bom Velhinho” e as explicações de meu pai sobre preconceito não me convenceram.
Na adolescência, já conhecendo a história de Papai Noel, saía com meus pais para escolher o presente de Natal. Daí então, comecei a entender o valor de receber e dar presentes a qualquer pessoa.
Eu tinha uma grande amiga que me dava lembranças maravilhosas; chegou até a fazer uma festa no meu aniversário. Afastou-se de mim e em determinada data enviou-me um presente horrível, de uma cor que não uso. Estava escrito nas entrelinhas: Não gosto mais de você.
De outra vez, participei de um “Amigo Secreto” e a amiga que tirou meu nome, disse-me bem baixinho: “O presente que comprei é muito ruim, você não o merece”. E foi embora. Entendi a mensagem.
Não é necessário que doemos lembranças caras, mas que elas, apesar de simples, sejam discretas e tenham algo a ver com a criatura a ser presenteada. Um bom livro, uma boa colônia, ou algo, vai agradar seu amigo ou parente.
Já velha, tenho o prazer em dar presentes a pessoas com que convivo ou de quem gosto muito. Muitas vezes, lembro-me de alguém, compro um presente e o guardo, esperando uma boa ocasião para entrega-lo ao dono.
Outro grande prazer é receber de algum amigo uma coisa que me agrade. Junto com ela, vem a mensagem: Gosto muito de você. É gratificante!
Os jogos que fazemos na época de Natal são interessantes. No “Amigo Secreto” morro de rir com as mensagens. Outro dia, brinquei com um neto, dizendo: Se tirar você, vou lhe dar três cuecas. Ele chorava: Não quero, vó! Dei ao danado um boneco que adorava. Todos riram muito.
No meu aniversário de setenta anos, uma amiga comprou um lindo prato de bolo para mim. Ao chegar no local da festa, o marido dela caiu e quebrou o prato. Ele ficou encabulado, rimos muito e eu perdi tão bonita lembrança.
Tenho um amiguinho de oito anos que ficou diabético. Vou sempre ao seu aniversário e quando vejo balas e chocolates sem açúcar, lembro-me dele. Ele me liga e diz: “Obrigado Dona Alali”. Gosto da pronúncia errada; inocente.
Nesses dois últimos anos, ganhei duas bisnetas. Fui conhecê-las na semana passada no Rio de Janeiro e levei duas bonecas de pano, confeccionadas por uma amiga. Lembranças das Alagoas.
Quando namorava meu marido, lá pros idos de 1960, recebi pelo correio uma cestinha, com perfumes de Elizabeth Arden. Ainda hoje existe a tal cesta, servindo para guardar “trecos”.
Esta semana, uma amiga contou-me bem alegre: “Ganhei do meu genro um sistema de energia solar para minha casa de praia. Gosto muito dele e ele de mim”. Coisas boas da vida!
Insisto em dizer que a troca de lembranças entre amigos e familiares é muito boa. Reflete consideração de ambas as partes. Conheço, entretanto, pessoas que não valorizam o ato de dar e receber pequenas ou grandes lembranças.
Certa vez, uma amiga recebeu um presente de outra e riu. Mais tarde, me contou que tinha dado a mesma colônia à sua amiga há dois anos. A caixa estava toda amassada. Claro que foi motivo de riso.
Nas festas de Natal, vemos cenas hilariantes. Determinadas pessoas levam coisas tão ridículas que, na hora da entrega, desaparecem. Todos se divertem e o herói ou a heroína da história some.
Como tenho família grande, com quatro filhos, onze netos e quatro bisnetos, procuro passar para todos eles o valor da amizade e de presentear amigos e parentes. Sinal de que gostamos uns dos outros.
O melhor presente que Deus nos dá é o dom da vida.
Ele existe. Não duvidem.
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa