Nos anos 60 os idosos morriam mais cedo. Poucos chegavam aos oitenta. E para nós, jovens, eles, os sessentões eram considerados velhos.
Naquela época não se falava em Alzheimer. Existia a senilidade, as pessoas saíam do ar por conta dos anos vividos. Conheci duas velhinhas que moravam com parentes, envelheceram tristemente fazendo bobagens, dizendo tolices. Morreram aos poucos, não deixando filhos.
Outro casal amigo nosso não teve tempo de caducar. Ela morreu com sessenta anos e ele com sessenta e sete; deixaram além de filhos e netos, muitas histórias para contar.
Recentemente, perdi um amigo com mais de noventa anos, lúcido, tinha perdido a mulher há dez anos. Tentou administrar a vida com doçura. Reunia a família toda segunda-feira no fim da tarde para não perder os laços dela. Adoeceu e morreu num curto espaço de tempo, deixando saudades.
Existe um político do interior que exerceu altos cargos. Dias atrás fez noventa e quatro anos. Com cabeça boa, reúne sempre os familiares, servindo de conselheiro para políticos mais jovens; não caiu no esquecimento.
Há pouco tempo, faleceu um grande amigo, que chegou a General de Exército. Estava na ativa nos dois governos de Lula e nos contava histórias daquela época, em que as Forças Armadas sofreram sérios desgastes e o Presidente xingava os comandantes de “Generais sem pólvora”. Nosso amigo era uma boa pessoa e foi conhecido como um excelente profissional.
Um companheiro da Assembleia, gente muito boa, ia sempre ao Sindicato dos Aposentados. Teve câncer de pâncreas em 2003/2004. Curou-se da terrível doença, mas faleceu em 2020. Conversava muito comigo, entrava em todas as ações judiciais e concluía afirmando: “Alari, de dezoito pessoas que tiveram câncer de pâncreas na minha época, só eu estou vivo; sou um homem feliz”! Recordo-me dele com bastante carinho.
Convivi com uma pessoa querida, que morreu com sessenta e cinco anos. Brincava com a saúde e a vida. Foi Deputado Estadual, teve o primeiro infarto muito jovem, não se cuidou, até o ponto em que o coração não suportou. Inteligente, sem sorte com as mulheres, pouco levou a sério os avisos médicos.
Outro político do interior foi Deputado Federal e Prefeito. Dedicou-se inteiramente à política, respirava, comia e sonhava com eleições. Levou um primeiro susto com um problema no coração, foi internado e sobreviveu. Recebeu o primeiro aviso de lá de cima. Voltou à vida política a todo vapor e morreu em um acidente de carro. Deixou uma pequena família e nenhum herdeiro político.
Nos idos de 1960 havia um professor primário em Penedo, terra de meus pais, que foi trabalhando com o povo e se elegeu Deputado Estadual. Não se reelegeu, mas recebeu um cartório em sua cidade natal. Criou a família com muito amor e só faleceu com mais de oitenta anos, deixando boas recordações.
Hoje, com oitenta anos, convivo com idosos e percebo que existem caminhos diferentes para nossos velhinhos. Uma colega, muito bonita na juventude, falava francês fluentemente, pintava bem e era uma criatura avançada para o seu tempo. Está velha, com mais de noventa anos, esquecida, adoecida, nem sai mais de casa, onde vive com uma filha. Deus abençoe nossa querida amiga, que ajudou muita gente.
Vez em quando, recebemos notícias de amigos que foram para o céu. Temos certeza de que estamos numa fila bem curta, esperando nossa hora.
Tentamos administrar o fim da vida com serenidade e com muita verdade. Poucos entendem e ficam chocados com a nova atitude, todavia agora entendemos que é hora de falar e não de engolir comentários maldosos.
A lucidez nos dá o direito de administrar nossa vida, curtir filhos e netos e não precisar sair no nosso querido “paraíso”. Ouço da minha filha mais velha o convite para morar perto dela, mas acho que não chegou a hora. Continuo na minha casa, escrevendo meus artigos, “viajando” na internet, vendo filmes e jogos de vôlei, com o apoio firme e seguro do meu companheiro.
Até quando Deus quiser!
* É aposentada da Assembleia Legislativa.
Alari Romariz Torres *
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