Lá pelos idos de 1957, ainda jovem, assisti pelo rádio, a um a escândalo ocorrido na Assembleia Legislativa de Alagoas: numa sessão tumultuada com muitos tiros, votava-se a cassação do então Governador de Alagoas, Muniz Falcão. Naquele fato saiu ferido um deputado amigo nosso, Dr. Carlos Gomes de Barros e morreu o Deputado Humberto Mendes, Presidente do Poder.
Por conta disso, ainda houve vários crimes no interior do Estado. As amizades e inimizades políticas eram grandes e a bala era a moeda da vingança. Eu ainda não era servidora do Poder Legislativo, mas acompanhava tudo o que acontecia em Alagoas pela imprensa.
Quando entrei na Assembleia, com 18 anos, via assustada, um Presidente da Casa, entrar no prédio com uma metralhadora na mão, acompanhado de seguranças.
Outro episódio que marcou nosso Poder Legislativo: a campanha de perseguição contra Divaldo Suruagy. Governador do Estado por três vezes era querido por uns e odiado por outros. Foi tão caluniado que renunciou ao cargo para não ser cassado. Homem de boa índole acreditava ter muitos amigos. De perto acompanhei o caso e vi que só dois o defendiam na Casa de Tavares Bastos: Temóteo Correia e João Beltrão. Sendo ex-Governador, ainda lutou para aprovar suas contas e até um deputado da oposição, ganhou dinheiro para se afastar do plenário na hora da votação. Morreu triste, com poucos amigos, ao lado de sua família.
Era muito interessante assistir à briga de dois parlamentares inimigos. Um ameaçava o outro, que resolveu ir para Espanha fugindo da saga do perseguidor. Este dizia bem alto: “MM, não tenha medo; sua hora não chegou”.
Tenho uma opinião formada para o afastamento do Presidente Collor. Eleito para governar o país, num pleito atípico, cantado em prosa e em verso por boa parte dos brasileiros, virou o Presidente mais popular do Brasil. Pensou que governaria sem as raposas velhas do Sul e do Sudeste. Escolheu pessoas erradas para lhe dar conselhos. Foi muito perseguido por causa de uma Elba, carro que lhe foi presenteado. Estarrecida, vi um grande aliado seu, votar contra ele no plenário do Congresso. Sofreu, foi absolvido de vários crimes, renasceu das cinzas e, atualmente, é Senador da República. Deve ter aprendido a lição.
Em Alagoas, havia um Governador, eleito num “aborto da sorte”. Collor era Presidente, dizia que apoiava seu opositor. A mulher do Presidente declarava, com força, seu apoio ao candidato em referência. Não dava para entender, mas ganhou o mais sabido. Não fez um bom governo, mas era inteligentíssimo. Morreu com poucos amigos.
O ambiente político é um campo aberto para cultivar inimizades. Até em eleições sindicais acontecem fatos interessantes. Se a criatura não apoia a chapa escolhida pela direção do Sindicato dos Inativos é agredida, vira saco de pancada e não pode frequentar a Sala dos Idosos. Aparecem inimigos desconhecidos e a “velha guarda” não defende uma pobre idosa.
A experiência da “Velhinha das Alagoas” faz com que analise tais fatos de maneira bem clara: se o político está numa boa posição, milhares de amigos estão ao seu lado. Quando a situação se complica, as dificuldades aparecem e os “ratos pulam do barco”.
Nesses mais de cinquenta anos de vida pública, ela, a idosa, já viu muitos acontecimentos dignos de nota. Não dá para narrar todos num só artigo.
Lembro-me de uma época em que Divaldo estava sendo massacrado por seus opositores e eu ao entrar na Sala das Comissões da Assembleia Legislativa, ouvi de um deputado: “Lá vem a amiga de Divaldo Suruagy”. Claro, respondi no mesmo tom: “Da mesma maneira em que o Sr. deveria ser amigo de Collor”.
Tento mostrar aos leitores que em política é difícil cultivar amigos. O importante é a convicção no que se defende. Já vimos amigos íntimos se transformarem em ferrenhos inimigos. Aproveitadores se encarregam de jogar uns contra os outros. Poucos são sábios para entenderem o “x” da questão.
Deus existe. Não duvidem!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa