O Brasil é um país maravilhoso. Tem rio, mar, montanhas, sertão, frio, calor. Podemos escolher onde morar e como gozar as delícias do imenso país.
Passei a minha infância e minha adolescência entre Maceió e Penedo. Nas férias, corria com meus irmãos para admirar o Velho Chico. Na segunda-feira, íamos de navio para Piranhas. Voltávamos na quinta. Sábado, passávamos na feira, comíamos coisas gostosas, comprávamos camarão, assistíamos a um filme no cinema, fazíamos novas amizades. .
No inicio do curso primário, moramos em Maceió, no bairro de Jaraguá, perto do mar. Meus irmãos mais novos foram nascendo e a família crescendo.
Em 1950 meu pai construiu uma casa na Avenida Fernandes Lima, no Farol e lá residimos por sete anos. O bairro era calmo, arborizado e com belas casas. Foi um tempo também feliz, cheio de amigos.
Desde pequenos, eu e meus irmãos curtíamos o rio e o mar. Meu pai, penedense apaixonado, amava o São Francisco. Sempre que podia, corria para Penedo e molhava os pés no rio.
Depois de casada fomos morar em vários lugares, por causa da profissão do meu marido. Outra cidade que marcou nossas vidas, onde moramos por dois anos, foi Garanhuns. Clima diferente, bastante fruta e verdura, povoada por boas pessoas que nos deixaram ótimas lembranças.
Tivemos oportunidade de morar em cidades grandes como Recife e Rio de Janeiro. Graças ao clima existente entre os colegas de trabalho sempre éramos bem recebidos em todas as cidades aonde chegávamos. Conhecemos novas famílias; tios e irmãos do coração foram se acumulando pela vida toda: os irmãos do Exército Brasileiro.
O tempo foi passando, filhos crescendo, saindo de casa, formando suas famílias. Com vinte e cinco anos de casados, ficamos sós e surgiu uma nova fase para o casal, já bem maduro. Chegou o momento dos netos.
Voltamos para Maceió, perto do mar. Contam as lendas que nessa fase, alguns casais se separam. Conosco, aconteceu o contrário; ficamos mais unidos e voltamos a trabalhar com muita força.
Quis o destino que dois filhos fossem morar em Petrolina, cidade pernambucana banhada pelo São Francisco. Lá estávamos nós entre o rio e o mar. Procurávamos encontrar o lado bom da nova cidade.
O vínculo com Petrolina foi ficando maior, pois quatro netos nasceram nessa linda metrópole. E lá vamos nós, fazendo muitos amigos no sertão pernambucano. Por outro lado, outros filhos moravam no Rio de Janeiro e Recife, perto do mar. O coração ficava dividido entre o surubim e a cavala, peixes de água doce e salgada.
Sempre me pareceu que a cidade banhada por mar tinha um cheiro diferente. Quando chegávamos a Maceió, vindos de Garanhuns e o ar marinho era respirado, quase chorávamos de alegria. Entretanto se vamos a Penedo ou a Petrolina e vemos o Velho Chico, lembramos o querido pai.
Por tantas mudanças, nossos filhos são uma mistura interessante. Têm um sotaque misturado, curtem o rio e o mar de maneiras diferentes.
Nossa família é bastante misturada: temos filhos alagoanos e cariocas. Os netos nasceram em Maceió, no Rio, no Recife e em Petrolina. E bisnetos em Petrolina, Londres, Miami e prestes a nascer outro em Nova Iorque. Ficou bem espalhado e hoje fica difícil juntar todos num só dia. Há bisnetos que nem conhecemos pessoalmente.
Mas todos têm algo do Brasil. Nós, os velhos, vivemos em Paripueira, na beira do alagoano mar. Quando a saudade aperta, viajamos para curtir filhos e netos. Nossos deslocamentos são sempre para as cidades onde eles residem.
Finalmente, os idosos de oitenta e poucos anos, casados há sessenta, vivem juntos, cheios de lembranças, correndo para o rio ou para o mar, apreciando as diferenças entre as diversas cidades.
O mais importante é segurar na mão de Deus e administrar o lado bom da vida, ora na beira do rio, ora na beira do mar.
Deus conosco!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa