Tempos atrás lendo Rubens Paiva, aprendi ser verdade a seguinte máxima: “quem não tem jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles…” talvez imbuído deste ensinamento, sempre adorei sair por aí, as vezes de mãos dadas com os que amo, em outras simplesmente sozinho e em inúmeras oportunidades somente caminhando pelas ruas centrais de nossa capital.
E então vou andando, não somente olhando vitrines ou tranqueiras comercializadas nos camelôs, recordando personagens que ali costumeiramente permaneciam, mas também sentindo-me privilegiado, por igualar-me aos milhares de anônimos que lá perambulam em busca de um episódio que os levem a sorrir.
É nestas horas que compreendo que somos pedaços de uma realidade que nos cerca, onde nada nos pertence mas também não possui donos, enfrentamos buracos na rua, becos sem saída, cheira-colas dormindo ao relento, obras paralisadas, loucos semáforos, pontos de ônibus cheios de sofredores, lojas com pouquíssimos clientes, lixo enfeando o local, olhares perdidos em busca de um horizonte que parece não existir.
Quase sempre me detenho em pontos que considero pitorescos para trocar ideias com aqueles que ali se encontram. Geralmente são comerciantes autônomos, que ganham o pão comercializando produtos variados. O engraxate da porta da Igreja do Livramento, as boleiras do oitão da antiga loja Helvética, o vendedor de picolé caicó, da Praça Deodoro, entre tantas outras figuras quase que exóticas, mas que representam a verdadeira face da terra em que vivemos.
Recordo que uma dessas personalidades, agora já morto, era o eterno dono da banca de revistas da Praça do Montepio. Eu era meninote e ele ali já se encontrava. Viveu o desenvolvimento da cidade, presenciou fatos inesquecíveis que fizeram a história de Maceió. Certa vez, me falou sobre o guarda municipal conhecido pelo apelido de “Amigo”, que sempre sorrindo, controlava o trânsito naquela interseção. Era o tempo em que o silvo do apito e o movimento das mãos da autoridade, eram respeitados pelos motoristas. Antes me contou o porquê das prostitutas haverem tomado o logradouro publico próximo ao seu ponto comercial, como referência aos clientes mais variados. Incrível foi a carreira que ele deu, quando muito tempo atrás por volta do meio dia, um oficial da Policia Militar, foi metralhado bem na esquina de seu ponto de venda de gibis, jornais e inúmeros outros itens mais.
Normalmente, converso com pessoas herdeiras de nada, integrantes de famílias de nobreza inexiste, mas que possuem a glória de haverem sido decadentes e hoje são sobreviventes como a ampla maioria dos brasileiros.
Eu poderia afirmar que a quase totalidade dos personagens que tinha a distinção de conhecer, se consideravam figurantes, um extra nas estórias em que se imiscuíam ao longo de cada dia. Gostavam mais do nascer e pôr do sol, justamente porque compreendem que a esperança é a ultima que morre. Apreciam o termino da tarde, porque sobreviveram a mais uma jornada e o início da manhã por terem mais um dia para ser feliz.
Alberto Rostand Lanverly
Presidente da Academia Alagoana de Letras