Certa vez, perguntaram a uma mãe: “Qual o filho de quem você mais gosta”? Ela respondeu com firmeza: “Aquele que mais precisa de mim”. Em nossa família chamamos de “bola da vez”.
Uma velhinha de mais de noventa anos viu um filho de mais de setenta morrer. Ela, chorando, virou-se para uma filha e disse: “Eu sabia que ele não se criaria”!
Outro dia, uma mãe sabia que um filho doente estava perto do lugar onde mora. Duas horas e meia de automóvel. Acordou angustiada, querendo ver o moço. Convenceu o marido e entraram na estrada até encontrar o filho doente.
Conheci uma sábia senhora que tinha 14 filhos. Uma delas era doente mental; a mãe cuidou dela até morrer. Quando eu a questionava sobre a preferência, ela respondia: “É a que mais precisa de mim. Tem o juízo fraco”!
A mesma senhora de 14 filhos dizia: “Alari, é difícil na doença mental saber onde começa a birra. Até eu me engano”!
Outra mãe idosa me dizia: “Protejo mais as filhas. Para mim, os filhos homens devem cuidar das irmãs”. E morreu pensando assim.
O meu caso é interessante: Tenho quatro filhos, dois homens e duas mulheres. Três deles acham que eu gosto mais do filho mais velho, pois mora distante. Ledo engano! Há sempre a “bola da vez”.
Minha avó paterna tinha dois filhos. Todos achavam que ele gostava mais do primogênito. “Gosto dos dois”, dizia minha velha avó, loira dos olhos verdes.
Encontrei-me casualmente com uma amiga muito sagaz. Contou-me que um filho esteve preso e ela nunca foi visitá-lo. Pensava que sendo negra e pobre, se fosse à cadeia ver o filho, seria pior. No dia em que ele saiu, ligou para a mãe pedindo para ir buscá-lo. Mandou ele tomar um taxi e vir para casa. Pagou ao taxista e deu um prazo para o filho se recuperar. Hoje, disse-me a corajosa mãe, é um homem de bem, trabalha, casou e tem uma filhinha.
Quando eu era Presidente do Sindicato da Assembleia, chegou um grande amigo meu acompanhando uma senhora negra, idosa. Ela precisava ir ao dentista e ele me disse que ela o criou, ao lado da mãe biológica. Emocionada, autorizei o tratamento.
Cantava na Igreja de Santo Amaro uma jovem de voz maravilhosa. Sumiu e fiquei preocupada. Em janeiro, ela reapareceu muito pouco. Disse-me que estava cuidando da mãe adotiva, doente, com mais de noventa anos.
Minha mãe era uma linda mulher, morena, cabelos bem lisos, filha única e muito dengosa. Fazia tudo pelos filhos, mas talvez por ter se criado sem irmãos, os pais não tiveram oportunidade de escolha. Daí tinha suas preferências. Deus a tenha em bom lugar.
Conto essas histórias para mostrar a força que tem o coração de mãe. Ela pode dizer o que quiser deles, mas ninguém ouse falar mal de seus rebentos. Existe mãe de todo tipo, mas a verdadeira é a que pensa nos filhos.
Quando os idosos se encontram, o assunto é um só: filhos e netos. Ouço histórias do “arco da velha”. Ao chegar alguém em nosso sindicato dizendo orgulhosamente: “Sou mãe de fulano ou de sicrano”; pessoas que obtiveram sucesso na vida. Mas outras chegam falando dos filhos doentes, pedindo a Deus saúde para eles. A vida é um redemoinho de notícias.
Morreu recentemente a mãe do Presidente da República, e vi, na internet, pessoas fazendo piadas sobre o assunto. Uma enorme falta de respeito pelo ser humano e por aquela que dá tudo de si em proveito de um seu rebento.
Ouço com atenção tudo o que uma mãe quer dizer, pois sei que vem do fundo do coração. Disse à mãe de um político, certa vez: Seu filho é sabido, astuto. Ela prontamente replicou: “Para chegar onde chegou, é mais do que sabido; é inteligente”.
E assim vamos nós, idosos e aposentados, vendo e ouvindo histórias de mães. As que são tristes, eu prefiro não contar. Estou numa fase de falar de bons sentimentos.
Não duvidem do coração materno! Ele vai ao fundo da alma.
Ele é forte!
Alari Romariz Torres
É aposentada da Assembleia Legislativa